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Sistemas territoriais e a Arquitetura do Café

A partir do artigo Sistemas territoriais integrados e a paisagem do café, o grupo elabora o resumo onde enumerou os diversos conceitos identificados no texto e através de imagens contribui para a ilustração dos temas. De autoria de André Munhoz De Argollo Ferrão, o texto apresenta diversos conceitos sobre unidades territoriais e enfoca no caso brasileiro do café, de grande importância na conformação da paisagem da região sudeste.


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Intervenções humanas criaram personalidade e características próprias a regiões determinadas - paisagem/território criado. A interação humano-natureza gera a paisagem em questão com elevado valor patrimonial - já que as construções são parte da paisagem e da história do local - e a recuperação destes patrimônios traz de volta a identidade local. Num contexto atual, elementos que marcaram o trabalho do homem sobre o território passaram a sofrer valorização e consequente revitalização, resultando em melhor assimilação da sua identidade e conformando a paisagem correspondente. Tal postura de recuperação é relativamente recente.


No Brasil: A Arquitetura do café é associada à uma paisagem cultural cafeeira - atores do desenvolvimento regional dos Sistemas Territoriais que os integram.


Temos hoje, num mesmo espaço grandes campos tecnológicos e os mais tradiconais contextos rurais - onde não há acesso ao desenvolvimento tecnológico e científico - compondo uma identidade nacional caracteristicamente heterogênera. Por outro lado a especialização dos processos de produção agrícola, e com isso a modificação dos sistemas territoriais rurais, estão mais homogêneos já que os aparatos industriais têm migrado para os centros urbanos. Em contrapartida, nesses centros urbanos, cidades de pequeno e médio porte, tornaram-se sistemas territoriais mais complexos, com muitas instalações ligadas ao agrobusiness, armazéns, terminais intermodais, etc.

Assim percebe-se que nos últimos 30 anos no Brasil várias áreas rurais deixaram de ser utilizadas apenas para agropecuária, mas passaram a se utilizar de alternativas de cunho cultural e ecológico. O repovoamento do espaço rural apresenta-se como alternativa viável e necessária frente aos problemas causados pelo intenso processo de urbanização no país. É essencial para reconhecimento e análise das paisagens culturais de uma determinada região processos de resgate e valorização da memória e cultura local alimentando Sistemas territoriais culturais. O patrimônio dos sistemas espaciais especializados correlacionando locais cívicos e religiosos, eventos e festivais tradicionais, sítios e a memória dos

sistemas de engenharia, dos produtos e processos típicos e tradicionais realizados num determinado território e a cultura popular são elementos essenciais para o desenvolvimento sustentável de uma região hoje.

Por tanto, é necessário analisar os sistemas territoriais rurais e consequentemente compreender que este é produto da integração dos processos de desenvolvimento rural com os sistemas territoriais das regiões metropolitanas mais dinâmicas.

No Brasil: ideia de uma paisagem bucólica, com pequenos sítios ou enormes glebas de terras; com conjunto de edificações destinadas à produção agrícola e à habitação, integradas por entradas vicinais, campos cultivados e pequenos povoados.



Uma possibilidade de tomada de limite para estudo de um sistema, ou seja, identificar uma unidade, é a compreensão territorial. Esse agrupamento pode ser feito por meio das bacias e sub-bacias, considerando que contam de um território ambientalmente homogêneo, integradas por suas características ecológicas, por regiões dedicadas à produção de uma determinada commodity e regiões históricas, ou dedicadas a produtos típicos fortemente vinculados ao território onde são produzidos são outras opções de unidade.

É necessário a caracterização das paisagens culturais das diversas e heterogêneas regiões agrícolas brasileiras, sendo elas resultantes da integração dos sistemas territoriais rurais com a sua paisagem correspondente. A integração de tais elementos, processos e subsistemas espaciais no contexto dos sistemas territoriais do café no Brasil resulta no que denominamos ARQUITETURA DO CAFÉ.


Abordagem sistêmica e o pensamento orientado a processos


Milton Santos: um sistema espacial pode ser estabelecido como uma “combinação determinada de modos específicos de produção, de circulação, de distribuição e de consumo de bens materiais” formando um grupo de estruturas - objetos que interagem de acordo com as regras do sistema. A caracterização do espaço depende dos “processos” que nele se realizam - ideia de tempo.


No Brasil: Diversificados sistemas territoriais rurais especializados em produtos para os mercados colocam o país entre os maiores produtores de commodities agrícolas. Dentre eles o café, do qual o Brasil lidera o mercado até hoje, com 47% da produção mundial, porém hoje esta já não é mais a principal atividade econômica do país. O país industrializou-se, mas a agricultura e o chamado agronegócio apoiados por competentes sistemas de engenharia transformaram o país numa potência “agrícola” mundial.

Commodities em geral produzidas por “empresários-agricultores” de grande porte;

Produção de agricultores de pequeno e médio porte abastecem o mercado interno em suas diferentes escalas e necessidades - agricultura familiar.

Complexo reflete sistemas espaciais específicos, porém integrados, conformando a paisagem dos diversificados sistemas territoriais do Brasil.



|Conceito de sistemas|

Importantes espaços produtivos que requerem - para análise ou planejamento - uma abordagem sistêmica e orientada a processos, que forneça instrumentos para a compreensão do espaço como sistema de sistemas; que tanto se adapta ao meio local como também promove adaptações no meio, numa mútua relação de integração de sistemas que imprime suas marcas sobre o território, configurando a paisagem correspondente.

Cada sistema ou subsistema espacial é composto por elementos que estruturam o espaço, cuja ação é necessariamente combinada com a dos demais. Eles coevoluem contin

uamente.


|Conceito de sistemas territorial rural|

Unidade produtiva dedicada a um ou mais processos agroindustriais. Um sistema territorial rural constitui-se como resultado da produção humana, a qual, por meio de técnicas e instrumentos de trabalho, intermedia a relação do homem com a natureza. As etapas de um processo produtivo se realizam num determinado espaço durante um certo tempo, e a produção desenvolve uma relação estreita com o lugar onde se realiza. Ao se estudar um sistema agrícola ou industrial, deve-se considerar as relações entre a produção e o lugar onde ela se dá.



Composto por:

- O núcleo industrial; (ed. para maquinários e produtos)

- A paisagem resultante da integração dos sistemas hídricos e territoriais; (corpos d’água, jardins, campo cultivado, etc)

- A arquitetura das construções complementares e suplementares àquelas do núcleo industrial; (currais, paióis, escritórios, barragens, pontes, etc)

- A arquitetura dos edifícios de habitação; (sede da fazenda e casas)

- O patrimônio cultural existente na propriedade. (senzalas, antigo núcleo industrial, etc)


|ARQUITETURA DO CAFÉ|

“Arquitetura” - contextura, ligação das partes que formam um todo; forma, aspecto físico próprio de objetos e seres, sendo o resultado da configuração de suas partes; ordem, organização do espaço.

A Arquitetura do Café remete aos “sistemas territoriais do café” e respectivas “paisagens do café”.


No Brasil, o cultivo do café foi muito importante na produção da paisagem rural: como resultado é notável a identificação da Arquitetura do Café. Para sua análise, ou qualquer outra arquitetura de um sistema espacial especializado no âmbito de um complexo produtivo, podemos tomar como orientação 3 vetores de coevolução:

1. compreender o contexto que determina as possibilidades de evolução

2. processo produtivo em si e os limites que a ciência e a tecnologia aplicada permitem à produção

3. representação da integração do sistema espacial à produção em foco, ou seja, o produto da coevolução dos vetores anteriores ||


(EXEMPLO:)

A abordagem sistêmica dos territórios rurais a partir da engenharia dos processos inerentes aos complexos produtivos que neles se desenrolam permite a caracterização de tipologias arquitetônicas rurais por períodos e sub-regiões delimitados histórica e geograficamente. Exemplos de sistemas territoriais do estado de SP ex. Campinas na virada do século XIX para o XX; Vale do Paraíba no séc XIX… cada uma delas é considerada um subsistema espacial integrante do sistema territorial do café no estado de SP. A integração desses sistemas resulta na paisagem paulista do café, ou melhor, nas paisagens do café em SP.


A diversidade dos complexos agroindustriais existentes nos diversos países e regiões do mundo, pode-se avaliar a riqueza do patrimônio, mas este deve sempre ser contextualizado.

Diferentes níveis de abordagem:

  1. Nível regional - a escala de um sistema territorial - tipologia arquitetônica e paisagístico do conjunto de unidades produtivas de uma dada região e os processos de desenvolvimento local;

  2. Nível da unidade produtora (no caso, a fazenda de café) - a escala de um sistema espacial especializado - arquitetura do núcleo industrial, arquitetura das áreas de cultivo ou criação, habitação, etc;

  3. Nível do edifício e do maquinário - a escala de um subsistema especializado - cada edifício pode ser considerado o objeto de estudo;

  4. Nível da paisagem - a escala de um sistema (espacial ou territorial) integrado - se integram a arquitetura das plantas que compõem as lavouras e o desenho de implantação das lavouras. No caso, o desenho do cafeeiro e do cafezal, os sistemas hídricos, os sistemas florestais nativos e artificiais, a arq dos campos de pastagem, as áreas de preservação permanente. IMA


As intensas e desequilibradas relações “cidade-campo” e as dinâmicas que caracterizam o “espaço não-urbano” como “espaço de reserva” para o crescimento das cidades distorcem o caráter complementar e integrador que induz a um desenvolvimento regional sustentável e equilibrado.

O estudo de tais sistemas territoriais integrados pode levar à uma melhoria no quesito sustentabilidade e integração. Tal estudo é essencialmente transdisciplinar por apresentar diversas questões complexas.


A integração dos sistemas territoriais rurais contribui para a sustentabilidade dos planos de ordenamento do território ou planejamento regional. Dotar as áreas rurais de infraestrutura territorial não só para a produção mas também para a habitação, convivência e uso ordenado dos sistemas espaciais rurais, preservando suas características identitárias, é necessário e essencial para o desenvolvimento dos cidadãos que vivem e trabalham tanto no campo como na cidade.


Há a necessidade de equilibrar nas áreas rurais a relação “público-privado” - garantir que sejam integrados também por subsistemas espaciais de livre acesso ao cidadão, de maneira a reverter o processo de “expulsão” das pessoas que não possuem terra. Percebe-se também a necessidade de resgatar e valorizar a memória e a cultura baseadas nas tradições rurais; sublinhando o potencial de novos empreendimentos.

Com isso é mais possível compreender que os diversos elementos que juntos resultam na paisagem, não são lineares, ou seja, coexistem e se influem ao mesmo tempo, não sendo possível considerá-los separados para uma análise. Exemplos de processos de evolução ao longo do tempo de sistemas rurais no território brasileiro são:

  1. migração dos artefatos de processamento do produto agrícola para áreas urbanas, em geral de cidades de pequeno e médio porte próximas às zonas de cultivo

  2. diversificação do uso das zonas rurais, antigamente tendo uso único para cultivo.

Cria-se uma ideia equivocada, a partir dos exemplos anteriores, que os territórios rurais estão sofrendo uma urbanização. Dotá-los de infraestrutura e tecnologia não significa anular suas características de território rural, mas sim reforçá-las à medida de permitir melhor desenvolvimento de suas metas e inclusão dos diversos agentes em seu desenvolvimento.



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